O delegado também confirmou que as vítimas foram enganadas pela empresa porque acreditavam na segurança das rotas de fuga. “A Vale conseguiu reunir 99% do seu corpo interno em uma simulação e 83% do corpo externo em outra. E essas pessoas foram orientadas a, se a sirene tocasse, caminhar calmamente até o ponto de encontro. A Vale sabia que as sirenes não funcionavam. A Vale sabia que essas pessoas teriam menos de 1 minuto para se salvar”, disse. “Então, essas pessoas morreram porque elas foram enganadas, e por isso que (os 16 réus) foram indiciados e denunciados por homicídio com recurso que tornou impossível a defesa das vítimas”, afirmou. Troca de e-mails O promotor Francisco Generoso detalhou a troca de e-mails entre gestores da Vale e representantes de empresas certificadoras no sentido de conseguir, a todo custo, o atestado de estabilidade da barragem. “Uma declaração de condição de estabilidade negativa geraria problemas reputacionais (para a Vale), a necessidade do acionamento do plano de ação emergencial e tantas outras medidas”, disse. Segundo ele, as investigações provaram que o lucro foi considerado antes da vida das pessoas. Ele contou que documentos apreendidos na empresa mostram que ela calculou o custo monetário dos riscos do rompimento da barragem, incluindo o custo de cada vida humana. “A existência de um cálculo de risco monetizado por si só é ilícito? Não. É uma sistemática corporativa que pode ser considerada, no plano empresarial, um instrumento de decisão. O problema é quando esse instrumento de decisão se presta a fundamentar a decisão entre o que fica mais barato: investir em segurança ou arcar com os custos da indenização. Ou entre decidir sobre se deve ser priorizada a vida e a integridade física de pessoas ou a reputação imediata da empresa”, disse. Importância dos familiares das vítimas no juri “Espero que não percam a esperança porque nossa expectativa é levar esse caso a júri”, afirmou o procurador do Ministério Público Federal Bruno Nominato. Segundo ele, para o andamento da ação penal, o papel dos familiares das vítimas é fundamental. “Traduzir o sofrimento das vítimas para o poder judiciário é fundamental e a participação dos senhores é uma garantia de que a gente consiga levar as coisas de modo melhor ao poder judiciário”, afirmou. “Esse caso não vai ser fácil porque não é um caso que a Justiça brasileira tenha facilidade de julgar. Estamos lidando com pessoas ricas e poderosas, com os melhores advogados do país. Mas aqui estamos fazendo um feixe com as famílias das vítimas, Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual e todas as instituições que participaram do trabalho de investigação”, completou. Observatório das Ações Penais Durante o Seminário, o advogado Danilo Chammas, assessor jurídico da AVABRUM para processos criminais, e a diretora da AVABRUM, Maria Regina da Silva, lançaram o site do Observatório das Ações Penais Sobre a Tragédia de Brumadinho. “Essa é uma iniciativa da AVABRUM com outras 8 instituições. É uma ferramenta que nasce justamente da necessidade de atender a demanda e ao desejo dos familiares, sobretudo, mas também pode ser de outras pessoas interessadas em conhecer esses processos”, disse. Maria Regina completou: “Hoje, neste Seminário, nós pudemos entender muita coisa que não entendíamos antes sobre o processo. E este Observatório vai fazer isso pra gente. Toda dúvida que tivermos teremos o esclarecimento lá. Ele foi criado não só para nós, familiares de vítimas de Brumadinho, mas para toda a sociedade. Às vezes a gente não tem a pessoa do lado porque ela não está devidamente esclarecida”. O Seminário 5 Anos Sem Justiça foi mais uma atividade para lembrar os 5 anos da tragédia da Vale, em Brumadinho. Pela manhã, o seminário reuniu os representantes das tragédias de Brumadinho, Mariana, Maceió e Boate Kiss, que formaram uma rede de solidariedade pelo fim da impunidade. Leia abaixo. Todo conteúdo do dia de palestras ficará disponível para consulta no Youtube da AVABRUM (@avabrumoficial) Esta semana, a AVABRUM promove no dia 24 uma Carreata por Justiça e um Louvor e, no dia 25, um grande Ato Por Justiça no Letreiro de Brumadinho. Confira a programação aqui. |