Os milhões de motoristas brasileiros sempre tiveram que ficar de olho no prazo de validade do extintor do carro. Nos últimos tempos, pairava no ar aquela ameaça: todo mundo precisaria ter extintor com carga ABC. Essa medida chegou a ser adiada três vezes. E aí, não mais que de repente, a novela acabou.
Foi tanto tempo com essa obrigação - 45 anos - que muita gente duvidou. “Ah, mentira! Comprei o meu na semana passada. R$ 100”, conta a dentista Taiene de Oliveira.
Milhares de pessoas o mesmo, até porque o Conselho Nacional de Trânsito tinha mandado substituir o extintor por um modelo específico, o ABC. E dava multa. “Não tem como mais. Tem que deixar lá”, diz um motorista.
O governo adiou três vezes a data para passar a valer; a última seria no dia 1º de outubro. E, na manhã de quinta-feira (17/09), mudou de ideia: decidiu que o extintor será opcional para carros de passeio e caminhonetes e continua obrigatório para quem faz transporte profissional. Essa é uma tendência mundial. Funciona assim em países da Europa e nos Estados Unidos.
Especialistas afirmam que a falta de conhecimento mais atrapalha do que ajuda. Nem todo mundo sabe usar o extintor, e ainda pode se machucar. Se o fogo for no motor, ao abrir o capô, você pode sofrer uma queimadura. Se for dentro do veículo, é perigoso também, porque, para chegar ao extintor enquanto o carro está pegando fogo, você tem que afastar o banco, chegar ao extintor, abrir a trava e, aí sim, usar o extintor. Como nem todo mundo vai conseguir ter calma para seguir todos esses passos enquanto o carro está em chamas, as autoridades se convenceram: tentar apagar o fogo pode ser mais perigoso que o próprio incêndio.
O Contran diz que levou três meses discutindo o assunto com bombeiros e fabricantes. E descobriu que incêndio em carro é coisa rara. Dos dois milhões de pedidos para acionar o seguro, só 800 foram motivados por incêndios. Desses, só 24 motoristas disseram que usaram o extintor.
O especialista em trânsito Davi Duarte lembra que os carros de hoje têm mais tecnologia, mais segurança: injeção eletrônica, corte automático de combustível em caso de batida, materiais e revestimentos especiais. Por isso, o extintor se tornou dispensável. “É muito positiva, primeiro, porque o proprietário de veículo deixa de usar um penduricalho que, na verdade, não serve, nunca serviu pra nada”, avalia.
Se pegar fogo? A Taiene sabe o que fazer. “Se o meu carro pegasse fogo, eu ia correr. Até parece que ia abrir, pegar e olhar. Na hora, eu não ia olhar, eu ia chamar o bombeiro”, conta.
Fonte: G1/Jornal Nacional