O bicheiro Carlinhos Cachoeira foi intimado a depor pela primeira vez num processo para investigar suas relações com uma autoridade detentora de foro privilegiado. A Justiça Federal em Goiás, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), marcou audiência na próxima quarta-feira (17) para ouvir o contraventor sobre uma suposta relação com o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

A audiência será comandada pelo juiz federal Alderico Rocha Santos, o mesmo que condenou Cachoeira a 39 anos, oito meses e dez dias de prisão — ele responde à sentença em liberdade. A diligência foi pedida pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e determinada pelo ministro do STJ responsável pelo inquérito, Humberto Martins.

Governadores têm foro privilegiado e só podem ser investigados e julgados pelo STJ. Indícios surgidos na investigação principal sobre os negócios ilícitos do bicheiro, a cargo da Polícia Federal, foram remetidos à Procuradoria-Geral da República (PGR) e ao STJ. Os governadores de Goiás e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), passaram a ser investigados em dois inquéritos diferentes diante das suspeitas de proximidade com o contraventor.

Gurgel entendeu que o procedimento referente a Perillo precisa de novas diligências, entre elas ouvir Cachoeira e mais seis pessoas envolvidas no esquema deflagrado pela Operação Monte Carlo. Além de Cachoeira, devem comparecer à audiência em Goiânia o ex-diretor da Delta Construções Cláudio Abreu; o ex-vereador pelo PSDB em Goiânia Wladimir Garcez; o ex-presidente do Detran de Goiás Edivaldo Cardoso; e mais três pessoas envolvidas na venda de uma casa do governador num condomínio fechado em Goiânia. Interceptações telefônicas apontam que o verdadeiro comprador do imóvel foi o bicheiro e, para isso, ele teria usado testas de ferro.

O advogado de Perillo no inquérito, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, disse que seu cliente não comparecerá à audiência. O governador será representado pelo advogado.

— Vou à audiência para ouvir as pessoas citadas. Esse é um andamento normal de um processo que o próprio governador pediu para ser aberto — afirmou Kakay.

O defensor de Cachoeira, Nabor Bulhões, disse não ter sido notificado ainda sobre a realização da audiência na Justiça Federal.

Fonte: O Globo/Vinicius Sassine