Dias após almoço com Lula, governador cita “esquerdinha de butique” e ataca entidades de defesa dos direitos humanos por denúncias
Dias depois de se encontrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Rio de Janeiro, para o lançamento da nova edição do Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), o governador Ronaldo Caiado (UB) voltou a criticar duramente a esquerda, os movimentos sociais e organizações religiosas ligadas a defesa dos direitos humanos. Caiado utilizou o termo “esquerdinha de butique que não trabalha” ao se referir aos movimentos que não reconheciam o agronegócio como potência produtiva.
As falas foram feitas em entrevista ao Programa Pânico, na rede Jovem Pan de televisão e rádio, nesta segunda-feira (14). Caiado foi perguntado se, desde a época da constituinte, em que ele fazia parte da União Democrática Ruralista (UDR), o agronegócio do país já era chamado de fascista.
O governador respondeu que, quando foi candidato a presidente, em 1989, enfatizou que estava naquela posição reforçando a importância do setor. “Eu dizia, essa esquerdinha de butique, tá certo? Que nunca trabalhou e não sabe qual o resultado e o potencial do Brasil. A agropecuária brasileira é a que mais absorve tecnologia no mundo”, afirmou Caiado.
O governador ainda disse que vai pleitear uma pré-candidatura à presidência pelo União Brasil em 2026 e que hoje é mais fácil ser candidato pela direita. Caiado ainda ressaltou que os programas sociais de Goiás emancipam as pessoas e criticou a postura da esquerda. “A esquerda tinha a paternidade de cuidar dos pobres? Não, pelo contrário. Elas interessavam em manter, preservar e ampliar a pobreza para que eles estivessem ali base de apoio (sic)”, disse Caiado, que ainda teceu elogios ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na distribuição dos títulos de terra.
Ao falar sobre a segurança pública, o governador criticou organizações religiosas ligadas à defesa dos direitos humanos e disse que as pastorais da Terra e a Carcerária faziam parte de movimentos, que junto com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) destituíram terras para quem “comungava” com os ideais do presidente do Incra. “Era tido como uma boa política e vinha junto a Pastoral da Terra, e Pastoral Carcerária lutando para ter quarto de motel dentro de presídio”, disse Caiado.
Crítica ao CNJ
O governador afirmou que, quando assumiu a gestão e manteve o controle da criminalidade em Goiás, evitou que as penitenciárias virassem “verdadeiros quartéis”. Ele ainda ressaltou que existe contestação ao modelo. “Quando a gente tinha quarto de motel e festa todo dia, você não tinha nenhuma denúncia no CNJ (Conselho Nacional de Justiça). E quando o CNJ ia lá ainda não tomava providência. E aí, quando você fecha, junta Pastoral Carcerária, advogados ligados a esse público, que ficam ali contestando para que você possa liberar a criminalidade”, disse Caiado.
O CNJ vistoriou o sistema prisional do estado em maio e no início de junho a presidente do conselho e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Rosa Weber, esteve em Goiás e visitou o Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. O relatório preliminar da Missão Conjunta Presidência e Corregedoria Nacional Inspeções em Unidades Prisionais de Goiás destacou, entre outros pontos, a prática de corriqueiras transferências de presos entre estabelecimentos prisionais, sem qualquer formalidade, queixa generalizada de fome nos presídios, violação das prerrogativas dos advogados e inspeções do conselho documentaram diversas pessoas com feridas visíveis, algumas delas isoladas da população prisional.
Em nota, a Pastoral Carcerária Nacional lamentou e repudiou as falas de Caiado e afirmou que caracterizar as prisões goianas como “motéis”, onde só “havia festa” não condiz com a realidade torturante e violadora de direitos humanos que os agentes da pastoral encontram. A nota ainda coloca que “é uma falácia” afirmar que as denúncias só acontecem depois que o sistema se fecha. “Tanto a pastoral como outras organizações de direitos humanos sempre denunciaram as condições torturantes nas prisões goianas”, afirma o documento.
Relação
O POPULAR mostrou na última sexta-feira (11), que Caiado tem tentado se equilibrar entre a defesa de discurso ideológico, relacionado a pautas conservadoras de direita, e a demanda por boa relação com o governo Lula tem marcado a postura do governador de Caiado, desde o início deste segundo mandato. E essa dualidade define passos contraditórios do goiano na busca por caminhos que o levem à disputa presidencial em 2026.
No Novo PAC, Goiás é o sétimo estado que mais deve receber investimentos. São R$ 98,5 bilhões, entre investimentos diretos da União e parcerias com o governo estadual. Das nove demandas apresentadas pelo governador, ao menos cinco têm previsão na lista feita pelo Ministério do Planejamento.
O Popular