O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) ofereceu nova denúncia por crimes sexuais contra João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus (77).
Segundo o órgão, ele está sendo denunciado por violação sexual mediante fraude contra dez pessoas.
Ele segue internado em hospital de Goiânia na manhã desta quarta-feira (05/06), mesmo após decisão do STJ determinar que ele volte para prisão.
A defesa do médium, informou que até as 9h10 desta quarta-feira não tinha conhecimento sobre a nova denúncia.
Sobre a decisão de mandar o cliente de volta para a cadeia, os advogados disseram que vão recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF).
De acordo com a denúncia, os abusos ocorreram na Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium fazia atendimentos espirituais.
Consta no processo que as vítimas relataram que foram abusadas na chamada "Sala da Entidade", com dezenas de pessoas que, segundo o MP, eram instruídas a ficar de cabeça baixa e olhos fechados durante todo o tempo, em oração - se abrissem os olhos eram convidadas a se retirar.
De acordo com os promotores da força-tarefa que investiga os crimes de João de Deus, os funcionários ficavam de olhos abertos e sabiam o que acontecia dentro da sala.
"Uma das vitimas, depois de passar por essa situação, foi ate um funcionário para relatar o que tinha ocorrido. Ele disse que isso era comum, normal, que não tinha nada de sexual no ato, que era algo assexuado", explicou a promotora Ariane Patrícia Gonçalves.
O MP-GO informou ainda que essa é a denúncia com maior número de vítimas.
Elas são todas mulheres, entre 20 e 35 anos, do Distrito Federal, de São Paulo e do Paraná.
Os abusos, conforme a denúncia, aconteceram entre 2015 e 2018. Ainda segundo o processo, outras cinco mulheres atuam como testemunhas, porque também denunciaram abusos, mas que já prescreveram.
Os promotores também investigam os funcionários e voluntários da Casa.
"Funcionários não somente tinham conhecimento dos fatos, como também contribuíam para viabilizar os delitos e impedir que as vitimas denunciassem, fazendo com que elas duvidassem do que tinha acontecido", completou Ariane.
“Havia uma estrutura de apoio montada, uma rede de proteção para viabilizar a prática desses delitos. Funcionários, voluntários, e até donos de pousadas da região sabiam o que acontecia e não reagiam, além de fazer com que as vítimas acreditassem que não eram abusos, mantendo-as em estado de dúvida para não denunciar o médium”, afirmou o promotor Augusto Cesar Souza.
Ainda segundo o promotor, o MP quer identificar esses funcionários, de que forma contribuíam aos crimes e a parcela de culpa de cada um.
O médium é réu em outros oito processos por: crimes sexuais, posse ilegal de arma e falsidade ideológica. Ele sempre negou as acusações.
João de Deus está preso desde o dia 16 de dezembro de 2018. No dia 22 de março deste ano, a Justiça autorizou que ele fosse transferido para o Instituto de Neurologia de Goiânia, atendendo a pedido da defesa, que alegava risco à vida do médium em razão do seu estado de saúde.
Internação e saída para presídio
O médico Alberto Las Casas, um dos responsáveis pelo tratamento de João de Deus, conversou rapidamente com o G1 assim que chegou ao Instituto de Neurologia de Goiânia, na manhã desta quarta-feira (5).
Questionado se o médium já estaria de alta, ele disse que o paciente já pode voltar para casa, mas criticou a decisão de encaminhá-lo novamente ao presídio em razão de sua idade.
“Ele tem condição de ir para casa. Voltar para o presídio, um homem de 80 anos [João de Deus tem, na verdade, 77]... Cada um assume o risco né”, afirmou.
Antes, o médico disse que não poderia falar sobre o estado de saúde do médium e que não sabia se o hospital já havia sido notificado ou como funciona o trâmite para que isso ocorra.
A Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP) informou, também na manhã desta quarta-feira, que até 7h36 não havia sido notificada oficialmente sobre a decisão do STJ de encaminhar o médium de volta ao presídio.
Habeas corpus negados
O STJ analisou nesta terça dois habeas corpus do médium.
Em um deles, a defesa contestava o decreto de prisão preventiva expedido contra João de Deus por posse ilegal de armas.
Em operações em endereços ligados a ele foram apreendidos mais de mais de R$ 400 mil, seis armas, pedras preciosas e medicamentos.
Relator do caso, o ministro Néfi Cordeiro havia negado o pedido de liminar (decisão provisória) para substituir a prisão preventiva por domiciliar e o caso foi ao plenário da Sexta Turma nesta terça.
O outro habeas corpus foi apresentado contra o decreto de prisão expedido por crimes sexuais.
Neste feito, também relatado por Cordeiro, foi autorizada a transferência do médium para o Instituto de Neurologia de Goiânia, onde está desde março.
Em ambos os habeas corpus, a defesa pedia para substituir a prisão preventiva do réu por prisão domiciliar, o que foi negado.
Andamentos das denúncias
O Ministério Público denunciou o médium dez vezes, das quais duas ainda não foram analisadas pela Justiça.
Ele é réu nas outras oito, que foram aceitas. Elas são:
• Quatro por crimes sexuais: dois deles já tiveram audiência realizada e outros dois estão com audiência marcada;
• Um por crimes sexuais, corrupção de testemunha e coação: ainda não teve audiência;
• Um por crimes sexuais e falsidade ideológica: atualmente está em fase de citação (comunicação ao réu);
• Dois por posse ilegal de armas de fogo e munição: um já teve audiência realizada. O TJ não deu detalhes sobre o outro caso.
Fonte: G1 Goiás (com adaptações)